Da Barreira Vibracional
No início do processo civilizacional, quando a hierarquia de senhor e escravo se estabeleceu de modo mais intenso, organizando a sociedade, usando as habilidades parapsíquicas-mediúnicas com o esboço de um processo burocrático e de censura, foi emergindo, ao longo de várias gerações sucessivas que cultivaram esse poder, um atrator de forças que chamamos aqui de Espiral do Controle.
Apreendemos que este cosmos se expressa por vórtexes de forças, de modo que o que se chama usualmente de “objeto” é, para nós, um atrator que se expressa por vórtexes compondo vórtex, uma relação contínua de macro e microcosmos. O vórtex que emerge da contínua relação de forças dos poderosos, que dominam outras parcelas da população, na relação nefasta entre repressão – muitas vezes bélica - de forças e do controle do “imaginário”, ou melhor, do controle e manipulação das cosmoapreensões, é o que nomeamos Espiral do Controle.
A Espiral do Controle precisava controlar o fluxo de informação mediúnica, colocando as forças ditas “místicas” como exclusivas da elite do poder. Com o avanço histórico, cada vez mais a magia foi sendo perseguida oficialmente pelas instituições de poder e simultaneamente descreditada através do controle das cosmosapreensões, sendo taxada como algo equivocado e mesmo maligno, sendo gradualmente substituída pela “razão” e pela ciência. No entanto, a ciência é apenas a sabedoria mística destituída de sua filosofia mais profunda, que gera uma concepção de cosmos um tanto limitada e reducionista, de modo que o método científico pressupõe “repetições do experimento” para se validar. Para nossa egrégora, repetir algo é impossível, de modo que a impressão de repetição se dá pela insensibilidade das cosmoapreensões. Nesse âmbito, nos aproximamos (sem nos parear, vale lembrar) com as considerações ao habitus do filósofo David Hume em seu A Treatise of Human Nature.
O modo mais direto que a Espiral do Controle reduz a apreensão da magia pela maioria da sociedade é através da criação da Barreira Vibracional. A Barreira Vibracional foi criada praticamente junta com a própria Espiral do Controle é ela é mantida ao longo dos milênios pelos poderosos que ressoam com a Espiral do Controle, ao contratar médiuns, magos etc. que usam suas habilidades para constituir a Barreira Vibracional, cujo maior objetivo é impedir ou ao menos dificultar a apreensão do atrator às “forças místicas”, de modo que ele se torne cada vez mais suscetível ao poder, “racionalizado”, secularizado e insensível.
É preciso cautela com o termo “forças místicas”, que utilizamos aqui apenas provisoriamente. Inexistem “forças místicas”, apenas “forças”, que compõe as pulsações/vibrações cósmicas. No entanto, o processo taxonômico, otimizado pela Espiral do Controle, criou a ilusão de separação entre saberes como “magia”, “filosofia”, “ciência” etc., criando falsas “categorias” de “forças”, que, em ürmN não fazem sentido, pois trata-se das mesmas “forças”, apreendidas em todo o seu espectro.
Uma mística livre, de modo que o termo não faça mais sentido, dada sua (mistura, ou melhor) dissolução na estranheza inerente, ressoaria na concepção que a Espiral do Controle mais se interessa em ocultar: que o desejo molda a realidade, cocriando-a, de modo que seja preciso conter o desejo, para que não se torne crível a infinita plasticidade cósmica. Isso é abordado de modo impreciso, mas instigante, na história em quadrinhos The Department of Truth de James Tynion IV e Martin Simmonds.
Com os próximos pulsos das pulsações cósmicas, haverá uma possibilidade historicamente inédita de diluir a Barreira Vibracional, de modo que grande parte dos nossos esforços se concentram nessa proposta. Para diluir a Barreira Vibracional, é preciso, a princípio, estudo e meditação para apreender ürmN. Nossa egrégora não precisa necessariamente se compor de atratores que se conhecem pessoalmente. Todos os atratores que ressoarem em ürmN já fazem, em intensidades variáveis, parte da egrégora.
É de grande relevância apreender que nós preferimos nos desviar da Barreira Vibracional do que “atacá-la”. O método dualista da luta ou do ataque algumas vezes se faz necessários quando a conjuntura construída pela Espiral do Controle é muito sofisticada e nos obriga a isso. Nossa melhor estratégia é se desviar dela, habitando outras frequências vibracionais, com modulação muito mais ampla que a da Barreira, que é muito restrita ao controle. Nesse sentido, nos aproximamos de Heidegger em seu ensaio "Die Überwindung der Metaphysik" quando ele diz “toda luta está a serviço do poder, sendo por ele desejada. Antes de qualquer luta, o poder já se apoderou de todas”. O que nos comove é muito mais amplo, uma liberdade inédita, que não pode ser moralizada pelos “libertários” oriundos do processo civilizacional. Quanto mais atratores adquirirem proficiência no aumento de modulação das pulsações cósmicas para além da Barreira, mais ela pode ser identificada e, por isso, sem a necessidade de ataque, ser diluída, apenas cultivando um campo de cosmoapreensão muito mais amplo. Tal liberdade ressoa com o que Eugene Thacker propõe em Tentacles Longer Than Night ao apreender o que ele chama de pessimismo cósmico em Schopenhauer, com mais liberdade do que filósofos ditos libertários que colocam a vida como “base” de sua filosofia, diferente de Schopenhauer, que, ao ler os orientais, propõe o vazio como “base” ou, como coloca Clarice Lispector em Água viva: “quando estranho a vida, é aí que começa a vida.” Se é preciso um outro nome para “liberdade”, menos eivado de moral, é justamente Clarice que problematiza o termo em Perto do Coração Selvagem: “Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome.” Talvez a kenophilia que o escritor Thomas Ligotti propõe em The Conspiracy against the Human Race ao nomear a emoção cósmica de Lovecraft ao contemplar o desconhecido; mas, as palavras aqui apenas nos servem enquanto trampolim.
Assim, nossa empreitada não visa o ataque, mas o cultivo crescente na modulação das modulações cósmicas, cujos próximos pulsos só facilitarão nosso exercício. Por não visar o ataque, nossas ações serão muito mais sutis e discretas, quase invisíveis aos modos de captura da Espiral do Controle, voltada ao dualismo e à guerra.
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